Pesquisa indica aumento de casos de violência contra alunos e professores nas escola
Segundo dados do Instituto Locomotiva e da Apeoesp, bullying e agressões verbais são acontecimentos corriqueiros na rede paulista
Publicado: 18 Dezembro, 2019 - 12h54 | Última modificação: 18 Dezembro, 2019 - 13h00
Escrito por: Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo - Apeoesp

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva e do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) indica que a violência cresceu nas escolas públicas paulistas nos últimos anos. De acordo com os dados, cinco em cada dez professores da rede (54% já sofreram algum tipo de violência nas dependências das escolas -- esse número era de 51% em 2017 e de 44% em 2014.
O crescimento é ainda maior entre os estudantes: se em 2014 eram 28% os que declaravam ter sido vítimas de violência nos colégios, esse número subiu para 39% em 2017 e chegou a 48% agora (quase a metade de todos os alunos da rede pública).
Os números são ainda maiores quando docentes e alunos foram perguntados se souberam de casos de violência nas escolas que frequentam: 90% dos professores responderam que sim (era 85% em 2017 e 84% em 2014), enquanto 81% dos estudantes também afirmaram ter ouvido algum relato desse tipo (era 80% em 2017 e 77% em 2014).
A presidenta da Apeoesp e deputada estadual, Professora Bebel, vê como extrema preocupação esses novos dados. “Os números demonstram que o Estado não tem uma política para prevenir e reduzir o índice de violência nas escolas paulistas. Sei que não há condições de zerar essas ocorrências, mas é necessário que a Secretaria da Educação tome medidas para que esse assunto seja debatido nas unidades escolares, para que a comunidade seja chamada a participar da vida escolar e que o diálogo se estabeleça, pois educação é processo civilizatório, é trabalho coletivo, é persuasão. A violência não será resolvida simplesmente com medidas repressivas”.
Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, o estudo demonstra a urgência de se discutir o assunto tanto dentro das escolas como nas instâncias responsáveis por geri-las. "Infelizmente, a situação que a gente vê é semelhante ao que acontece nas ruas das grandes cidades, em que ninguém se sente seguro. A diferença é que a escola deveria ser o lugar de discussão desses problemas, e não aumentá-los. Os governos precisam agir com pressa para que a violência não comprometa o futuro desses jovens", analisa.
Os casos de violência mais citados são diferentes entre os professores e os alunos: para quem ensina, a maioria dos casos diz respeito à agressão verbal (83% das citações), enquanto os estudantes citam o bullying como principal vetor da violência (62%).
No entanto, são significativos os dados que apontam o crescimento dos percentuais de todos os tipos de violência investigados: para 70% dos professores e 62% dos estudantes, o bullying nas escolas públicas paulistas aumentou no último ano, enquanto que 54% dos docentes 35% dos alunos notam que há mais casos de discriminação agora do que nos anos anteriores.
"Estamos alertando para essas questões há cinco anos, quando fizemos a primeira pesquisa. Até agora, nada foi feito, e não à toa o crescimento de todos os índices de violência nas escolas. Nós e a Apeoesp mantemos firmemente a posição de que o Estado precisa encontrar meios de combater esse problema para evitar que a situação siga se agravando. É o futuro de uma geração que pode estar em jogo", completa Meirelles.
A Professora Bebel concorda. E acrescenta: “Isso passa, necessariamente, pela valorização dos profissionais da educação, sobretudo os professores, e por medidas efetivas para equipar melhor as unidades escolares, construir de forma coletiva uma proposta curricular que responda aos anseios dos estudantes e para tornar cada escola um local agradável no qual estudantes, professores e funcionários queiram estar”.
A pesquisa Qualidade da educação e violência – Ouvindo a população e a comunidade escolar, do Instituto Locomotiva e da Apeoesp, ouviu 1 mil estudantes e 701 professores em todo o Estado de São Paulo entre setembro e outubro de 2019. Além disso, o estudo ainda entrevistou 1.516 pessoas em todo o país sobre os mesmos temas. O objetivo é monitorar a percepção sobre a qualidade da educação, a segurança nas escolas e outros temas relevantes para a educação pública.