Movimentos protestam no Dia da Consciência Negra e celebram derrota de Bolsonaro
Entidades participantes da 19ª Marcha do Dia da Consciência Negra se reuniram em frente ao Masp, na Avenida Paulista, e fizeram apresentações de rodas de capoeira e dança
Publicado: 21 Novembro, 2022 - 15h18 | Última modificação: 21 Novembro, 2022 - 17h02
Escrito por: Vanessa Ramos - CUT São Paulo
Movimentos sociais e organizações populares realizaram ato no Dia da Consciência Negra nesse domingo (20) e protestaram contra o racismo e por direitos na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo. As entidades também comemoraram a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) bloqueou toda a via no sentido Centro. As atividades começaram por volta das 10h.
Os grupos da 19ª Marcha do Dia da Consciência Negra se reuniram em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) e fizeram diversas atividades culturais. Houve um ato inter-religioso com fala de representantes de religiões de matriz africana, apresentações de capoeira e rodas de dança. Camisetas e cartazes diziam:"Tire o seu racismo do caminho que eu quero passar com a minha cor.”.
Por volta das 12h, o grupo saiu em caminhada em direção ao Theatro Municipal, no centro da cidade.
Ao contrário de anos anteriores, o ato começou mais cedo em razão da abertura da Copa do Mundo no início da tarde, com jogo entre o Equador e o Catar, seleção anfitriã.
O protesto cobrou respeito pelas pessoas negras, o fim do racismo e da intolerância religiosa e a igualdade de direitos pela vida e emprego, comida e moradia. O ato também lembrou os quase 700 mil brasileiros mortos pela covid-19 e responsabilizou o atual presidente da República.
Além da capital paulista, outras marchas e atos foram realizados nas cidades de Campinas (SP), São Bernardo do Campo (SP), Mauá (SP), Mongaguá (SP) e Guarulhos (SP).
Secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Aparecida da Silva destacou a luta em defesa da democracia e contra o racismo.
“Depois das difíceis eleições que tivemos, fomos às ruas para reafirmar a nossa luta. Os negros e negras lutam por um Brasil melhor, pela retomada de nossos direitos e contra os assassinatos de nosso povo”, afirmou.
A dirigente também lamentou a vitória de Tarcísio de Freitas ao governo de São Paulo e mostrou preocupação diante de um político que defende a militarização nas escolas. Repudiou ainda a postura do novo governador que garantiu, durante a sua campanha eleitoral, que irá retirar a câmera do uniforme dos policiais, equipamento que filma as ações dos agentes públicos e que permite um maior controle do uso da força policial.
O metalúrgico Daniel Calazans e a professora Telma Victor, dirigentes da CUT-SP, fizeram coro à defesa da democracia e contra a violência.
“Seguimos defendendo as instituições e a garantia do voto popular nas eleições”, disse Calazans. "Precisamos acabar com a violência e estar unidos para reivindicar melhores condições de saúde, de moradia e de trabalho para a população negra. Os governos federal e estadual precisam ter um olhar específico para essa população", completou Telma.
Povo nas ruas, categorias mobilizadas
Diretor do Sindicato dos Químicos de São Paulo, Walmir de Morais, destacou a luta antirracista no Brasil a partir da classe trabalhadora.
“A nossa base é composta por 60% de pretos e pretas. Precisamos fortalecer as mobilizações e falar da nossa realidade. Há mais de 10 anos, os químicos têm acompanhado a marcha em São Paulo”, relatou Morais, que também é secretário de Assuntos Jurídicos da Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico da CUT no estado de São Paulo (Fetquim-CUT).
Já a secretária de Atenção à Mulher Trabalhadora do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), Laudicéia Reis Silva dos Santos, reforçou a importância do serviço público na 19ª Marcha da Consciência Negra.
“Foram os serviços públicos que salvaram a vida da população preta e periférica no momento mais difícil da pandemia. É importante que a gente combata a terceirização dos serviços, pois a nossa população depende desses serviços para se manter viva.”
Somando-se às falas de Morais e Laudicéia, a coordenadora da Aliança Pró-Saúde da População Negra e integrante da Agente de Pastoral Negros do Brasil (APNs), Geralda Marfisa, falou sobre o que espera do próximo período.
“Estamos na esperança de um novo governo, acreditando que as coisas irão melhorar. Racistas, não passarão”, destacou.
Coordenador do Unificação das Lutas dos Cortiços e Moradia (ULCM), Paulo Rafael, falou sobre a luta da população pelo direito de ter um lar.
“A maioria das famílias que lutam por moradia são negras e moram em favelas, em cortiços ou pagam aluguel”, detalhou o coordenador, que hoje mora em um antigo prédio desativado do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no centro de São Paulo.
O novo lar de Paulo Rafael foi inaugurado pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, em 2016, quando foram entregues 72 unidades de Habitação de Interesse Social na região República. Por meio de uma parceria entre os governos municipal, estadual e federal e a ULCM, o edifício abandonado passou por retrofit – uma técnica de revitalização de construções antigas.
Mulher preta e de luta, a deputada estadual eleita por São Paulo nas eleições de 2022, Ediane Maria, percorreu a 19ª marcha dialogando com a população.
“Estamos aqui mostrando a força desse povo que segurou esse país nesses quatro anos de retrocesso e de violência contra os nossos corpos. Não arredamos os pés das ruas”, afirmou Ediane, que é a primeira empregada doméstica eleita para o cargo no estado de São Paulo.