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Movimento sindical elabora estratégia para avançar em conquistas no setor de bebidas

Trabalhadores e trabalhadoras das fábricas de bebidas discutem propostas de negociação nacional em seminário organizado pela Contac-CUT e Uita na cidade de São Paulo

Publicado: 23 Novembro, 2022 - 17h51 | Última modificação: 24 Novembro, 2022 - 11h13

Escrito por: Vanessa Ramos - CUT São Paulo

Roberto Parizotti/CUT
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Garantir o fortalecimento das entidades sindicais para construir uma futura negociação nacional dos trabalhadores e trabalhadoras do setor de bebidas no Brasil e ampliar a luta por direitos que foram retirados no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Essas e outras estratégias de luta foram tratadas nesta quarta-feira (23) no Seminário Nacional de Bebidas, realizado pela Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores da Alimentação (Contac), filiada à CUT, e a União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação (Uita). O evento segue até esta quinta-feira (24), no auditório da CUT, no centro da capital paulista.

Participaram da atividade federações e sindicatos filiados à Contac-CUT de todo Brasil.

Presidente da Contac-CUT, Nelson Morelli apontou que com o novo governo eleito renovam-se as esperanças, mas será a capacidade de luta da classe trabalhadora que fará a diferença.

“O seminário é um pontapé, um ponto de partida na reorganização desse setor expressivo em nosso país. O que fará a diferença agora é nosso poder de mobilização para avançarmos em direitos sociais e nas nossas negociações”, disse. 

Roberto Parizotti/CUTRoberto Parizotti/CUT
Presidente da Contac-CUT, Nelson Morelli, no Seminário Nacional de Bebidas

Vice-presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas, defendeu a reestruturação sindical como parte essencial da democracia e falou sobre o desafio de organizar os trabalhadores e trabalhadoras no mercado informal.

“Precisamos de uma reestruturação sindical que coloque em pauta o financiamento das organizações sindicais e o fortalecimento dos sindicatos. Bolsonaro tentou acabar com a nossa luta, mas não permitimos isso, vencendo ele nas urnas. Precisamos fortalecer a negociação, as convenções coletivas e nos preparar para representar quem ainda não tem representação, principalmente trabalhadores e trabalhadoras de plataformas e aplicativos que são grande parte da classe trabalhadora”, pontuou.

ROBERTO PARIZOTTI/CUTROBERTO PARIZOTTI/CUT
Da esquerda para a direita, os dirigentes sindicais da Bahia Camila Carvalho e Alberto Evangelista, e o vice-presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas

Para o presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID-Brasil), Rafael Marques, é preciso reverter o quadro de desindustrialização no Brasil que persiste há algumas décadas e fazer com que a indústria, inclusive de bebidas, se torne um motor para o desenvolvimento.

“A TID-Brasil elaborou o Plano Indústria 10 ao longo de 2020 e 2021 com a proposta de fortalecer a indústria, reindustrializar o Brasil e fazer desse setor um ponto de acesso e colaboração com as demandas sociais brasileiras. O segmento industrial de bebidas é o setor que mais cresce no país, tem capacidade, qualidade, bons produtos, boas marcas e uma das missões é internacionalizar a presença brasileira mundo afora. Uma forma de atrair empregos é a modernização do parque produtivo”, explicou.

Não há democracia sem sindicato

Para o advogado Ronaldo Machado, há ainda um cenário desafiador a ser resolvido, como é o caso da pejotização ampla no setor de bebidas. 

“Quantos trabalhadores foram transformados em supostos empreendedores, perdendo direito às férias, ao décimo terceiro salário, com a ideia de que são pequenos empresários, o que não é verdade. O seminário traz essa discussão e nos permite apontar para o novo governo, para as novas autoridades do Ministério do Trabalho, essas questões. E tratar ainda sobre uma forma de contribuição efetiva para os sindicatos, que abranja todos os beneficiários da negociação coletiva”, defende Machado. 

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Da esquerda para a direita: José Enoque da Costa Souza, Gustavo Sotelo e Geni Dalla Rosa

Nesse sentido, a secretária de Comunicação da Contac-CUT, Geni Dalla Rosa, destacou a importância da mobilização sindical. "Não adianta dizer que Lula vai resolver todos os nossos problemas e revogar todas as reformas imediatamente. Existe muito a ser feito e se não formos às ruas e seguirmos nas portas de fábrica, isso não vai avançar como esperamos.".

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Coca-Cola do Uruguai, Gustavo Sotelo, destacou que não há democracia sem trabalhadores buscando a justiça e o progresso.

O dirigente citou a vitória de Lula como conquista ampla para o Brasil e os países da América Latina. “Há uma diferença de um governo que surge da classe trabalhadora. As organizações sociais e os trabalhadores e trabalhadoras são o que movem um país”.

Produção nacional 

A indústria brasileira de bebidas emprega hoje 122.957 pessoas em 3.498 estabelecimentos, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) 2022.

Com um mercado expressivo, 99% das bebidas produzidas no Brasil são para consumo interno. A participação do setor no PIB industrial chega a 1,65%, de acordo com dados da plataforma "Perfil Setorial da Indústria", da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com informações de 2020.

A produção nacional é diversa: vai de água, sucos, refrigerantes e bebidas alcoólicas até preparos concentrados para diluir e xaropes.

Supervisor técnico do escritório regional do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em São Paulo, Victor Pagani, tratou dos impactos da reforma trabalhista.

“Há 10 anos convivemos com uma queda nos empregos e tivemos uma leve recuperação em 2021. Porém, a partir da reforma trabalhista, em 2017, que ampliou as possibilidades para contratações precárias, a remuneração média tem caído ano após ano”, disse. 

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Victor Pagani, do Dieese, apresentou um panorama nacional do setor de bebidas

Na avaliação do presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Bebidas da Bahia (Sindbeb), Alberto Evangelista, o principal desafio é buscar a reunificação nacional dos acordos dos trabalhadores da indústria da bebida.

“Em nosso estado, a Bahia, há um grande polo de bebidas, que reúne mais de cinco mil trabalhadores. Precisamos retomar a luta unificada para alcançarmos conquistas importantes e reagirmos diante dos inúmeros prejuízos que a reforma trabalhista nos trouxe desde 2017. Com a eleição do presidente Lula, devemos nos mobilizar para resgatar o que perdemos e avançarmos na luta.”

Secretário Jurídico da Contac-CUT e presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral de São Paulo, José Enoque da Costa Souza, também defendeu a mobilização conjunta para discutir a situação dos empregados e empregadas do setor.

“A inflação no setor de bebidas e alimentos hoje é o dobro da média inflacionária do país. Queremos fazer a discussão sobre o reajuste com o setor patronal, mas não a partir da inflação geral, mas do setor, porque após a pandemia, as empresas de bebidas vendem cada vez, diminuíram o número de trabalhadores e estão lucrando muito”, disse Enoque.

Segundo o dirigente, foi preciso fazer um aditamento nos acordos de Participação nos Lucros e Resultados, uma vez que as muitas empresas planejavam meta de lucro de 120% e alcançaram 220%, resultando em uma maior exigência dos patrões. “Vamos lutar por reajuste e aumento real, a partir de uma pauta que seja comum para todo o Brasil”, falou.

Também para Roberto Santana, secretário de Formação Sindical da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentos e Afins no Estado da Bahia (Fetiaba), é preciso resgatar a organização nacional do setor de bebidas, assim como existia na década de 1990, avalia, ao citar a lutas na empresa Antártica, que hoje é a Ambev, na Kaiser, que hoje é a Heineken, e na Coca-Cola.

“Naquele período conseguimos fazer o primeiro acordo nacional e colocar na mesa cerca de 30 sindicatos com representatividade nacional. Conquistamos direitos como liberação de dirigente sindical, reajuste salarial unificado e participação nos lucros e resultados. Isso possibilitou avanços em diferentes regiões do Brasil. Resgatar isso hoje significa retomar uma campanha forte de negociação e ter força maior para pressionar”.