Em seminário, CUT-SP pauta crise climática e cria coletivo estadual de Meio Ambiente
Evento reuniu trabalhadores de diversos sindicatos e coordenadores das subsedes CUT-SP entre os dias 13 e 14 de junho
Publicado: 17 Junho, 2024 - 10h54 | Última modificação: 17 Junho, 2024 - 12h02
Escrito por: Laiza Lopes - CUT São Paulo

Conscientizar e apoiar a formação da classe trabalhadora para a crise climática e seus desdobramentos é um dos objetivos do 2º Seminário Sindicalismo e Meio Ambiente: Políticas Públicas Municipais e Transição Justa. O evento aconteceu nos dias 13 e 14 de junho, no auditório do Sindsep, e reuniu mais de 100 participantes.
O seminário teve como principal encaminhamento a formação do Coletivo de Meio Ambiente da CUT-SP, que visa apoiar sindicatos, federações e subsedes cutistas nas negociações coletivas, bem como na preparação destas perante os efeitos das crises ambientais e as exigências de transformações produtivas para uma economia de menor impacto ambiental.
O evento também estabeleceu uma articulação socioambiental mais ampla entre movimento sindical e movimentos sociais, contando com parcerias de organizações como o Dieese e o MST, para a incidência em fóruns multilaterais como G20 e COP.
Na abertura, em 13 de junho, a discussão inicial contou com uma análise de conjuntura com as participações dos seguintes dirigentes sindicais: Raimundo Suzart (Presidente da CUT-SP); João Gabriel Buonavita (Presidente do Sindsep-SP); Solange Cristina Ribeiro (Secretária de Meio Ambiente da CUT-SP); Sérgio Antiqueira (Secretário Nacional de Relações do Trabalho da CUT).
"A crise climática é urgente. Os técnicos e cientistas renomados que discutem e estudam a questão estão sendo desqualificados, desacreditados. Por isso a importância desse seminário. Dele sairá grandes ideias e debates para pautarmos e orientarmos o avanço da causa na Central", comenta Raimundo Suzart, presidente da CUT-SP.
A secretária do Meio Ambiente da CUT-SP, Solange Ribeiro, também ressalta a urgência do tema. "A gente ouve falar mas não tem noção da gravidade do que está acontecendo e do que está por vir. Precisamos ouvir e conhecer para nos articularmos. Vamos sair (do seminário) ricos de informações e preparados para os próximos passos."
O desmonte das políticas públicas relacionadas ao meio ambiente em São Paulo ao longo das décadas foi pontuado por João Gabriel Buonavita, presidente do Sindsep-SP. “A primeira área de ataque aqui na cidade foi a fiscalização ambiental, asfixiando a capacidade de carreiras com a falta de concursos”, analisa.

Capitalismo e as mudanças climáticas
A conexão entre meio ambiente, política e economia pautaram a discussão do primeiro dia de debate. Endossando os temas, falaram especialistas como Marco Dalama (mestre em ciências ambientais); Fábio Buonavita (superintendente do Ibama em São Paulo), Wagner Ribeiro (professor pós-graduação em Ciência Ambiental); Hélio Rodrigues (vereador de São Paulo pelo PT); Luiz Claudio Marcolino (deputado estadual no Estado de São Paulo (PT-SP).
No centro das questões ambientais está o capitalismo como causa, que pressiona os recursos naturais ao ampliar a necessidade de consumo desenfreado, apontam os especialistas durante o seminário.
Neste contexto de "estado mínimo" ganham força as privatizações e cortes de verbas que deveriam ser usadas para a prevenção de desastres climáticos. Nos anos do governo Jair Bolsonaro (2019-2022), por exemplo, houve corte de orçamento do Ibama, ICM-Bio e Inpe, órgãos-chave para o combate ao desmatamento.
Após profundo sucateamento, as políticas para o combate às crises ambientais estão em fase de retomada no atual governo Lula. "Está sendo preparado o Plano Clima com um conjunto de normativas importantes, o grande desafio será passar no atual Congresso Nacional", afirma Fábio Buonavita, superintendente do Ibama em São Paulo, durante o evento. O Plano Clima servirá como guia da política climática brasileira até 2035.

Entretanto, os desafios persistem e se estendem para o âmbito estadual com a recente onda de privatizações em São Paulo, como já feito com a Enel e em curso com a Sabesp. Todos esses processos de privatização impactam a forma de combate aos eventos climáticos extremos, que serão cada vez mais frequentes e intensos.
"Não dá pra deixar na mão do capital um serviço tão importante para a população. Vai na contramão de tudo o que está sendo feito no mundo", aponta Wagner Ribeiro, professor de pós-graduação em Ciência Ambiental.
Saúde do trabalhador e transição justa
A OIT aponta que mais de 2,4 bilhões de trabalhadores e trabalhadoras estão expostos ao calor excessivo em algum momento do seu trabalho, de acordo com os números mais recentes disponíveis, de 2020. Isso é só um exemplo de como a classe trabalhadora é diretamente impactada pelas mudanças climáticas.
Se no passado, meio ambiente e trabalho eram vistos separadamente, hoje não há como desassociá-los, defendem os participantes do segundo dia do Seminário Sindicalismo e Meio Ambiente, que ocorreu na sexta-feira (14).
"Um desastre ambiental gera uma reação em cadeia. Trabalhadores esgotados devido à necessidade de cuidar dos socorros. Nisso está envolvido traumas agudos, óbitos. Às vezes os trabalhadores que atendem não têm a oportunidade de serem atendidos", disse Elionara Ribeiro, assessora de Saúde do Trabalhador do Sindsep-SP, durante o painel.
Para enfrentamento da crise climática, a transição justa é a principal bandeira encampada pelo movimento sindical CUTista.
“Defendemos a transição por processos de descarbonização e mudança do processo produtivo, mas que leve em conta os impactos no mundo do trabalho e da classe trabalhadora em uma perspectiva Sul-Global”, explica Daniel Gaio, secretário nacional de Meio Ambiente da CUT, que fez parte da mesa Transição Ecológica Justa para os Trabalhadores e Trabalhadoras.
Segundo os especialistas, o principal desafio da transição justa é a integração das dimensões política, econômica, social e ambiental, em que o advento de um novo modelo de desenvolvimento de baixo impacto ambiental garanta trabalho decente, distribuição de riqueza, democracia participativa, equidade de gênero, proteção e inclusão social de todos.
Por isso, há a defesa da implementação de um “Programa Nacional de Requalificação Profissional” para os trabalhadores, que serão impactados pelos novos modelos advindos da transição, além de outras estratégias que envolvam formação e articulação com outros movimentos.
A única perspectiva possível é nas mudanças que podemos fazer e sustentá-las no coletivo para não sermos capturados pelo individualismo. O tempo todo tentam nos colocar como indivíduo, temos que sair disso", ressalta Renata Belzunces, especialista em trabalho, sindicalismo e meio ambiente do Dieese.
Neste sentido, a criação do Coletivo Estadual de Meio Ambiente é fundamental para reunir diferentes atores na discussão e elaboração de ações para o enfrentamento à crise climática. Cada subsede da CUT-SP e federação deverão indicar três nomes para compor o coletivo até julho. A primeira reunião do grupo está prevista para o início de agosto.
Programação
13/06
MESA 1 - CRESCIMENTO ECONÔMICO ILIMITADO E LIMITES PLANETÁRIOS: - Coordenação – Solange Ribeiro
Subtemas:
- Capitalismo e Caos Ambiental: os limites planetários – Marco Dalama (cientista social e mestre em ciência ambiental);
- Meio Ambiente, política e economia no Brasil – Fábio Buonavita: superintendente do Ibama em São Paulo;
- Meio Ambiente, política e economia no Estado de São Paulo - Luiz Cláudio Marcolino: Deputado Estadual no Estado de São Paulo (PT-SP);
MESA 2 - MEIO AMBIENTE E POLÍTICAS PÚBLICAS MUNICIPAIS – Coordenação: Luciane Tahan
Subtemas:
- A contribuição das políticas municipais para um mundo socioambientalmente mais justo – Wagner Costa Ribeiro: Professor Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (PROCAM - USP);
- As problemáticas socioambientais no Município de São Paulo – Hélio Rodrigues: Vereador no Município de São Paulo (PT-SP);
14/06
MESA 3 - TRANSIÇÃO ECOLÓGICA JUSTA PARA OS/AS TRABALHADORES/AS: Coordenação – Luana Bife
Subtemas:
- Mudanças Climáticas e a saúde dos/as trabalhadores/as – Elionara Ribeiro: assessora de Saúde do Trabalhador do Sindsep-SP;
- O que é Transição Justa? – Daniel Gaio: Secretário Nacional de Meio Ambiente da CUT;
- Casos reais de processos e negociações sindicais de Transição Justa – Renata Belzunces: especialista em trabalho, sindicalismo e meio ambiente do Dieese;
MESA 4 - DEMANDAS E POSSIBILIDADES DE AÇÃO DOS TRABALHADORES PARA UM AMBIENTE EQUILIBRADO: Coordenação – Joice Jaqueline Lopes dos Santos
Subtemas:
- Parcerias de entidades sindicais com grupos, coletivos, movimentos e entidades que realizam ações climáticas e socioambientais – Jade Percassi e Gilmar Mauro: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST);
- Proposta de mapeamento interativo de conflitos socioambientais nas bases dos ramos e entidades cutistas – Marco Dalama: assessor de meio ambiente da CUT-SP e Renata Belzunces: especialista em trabalho, sindicalismo e meio ambiente do Dieese.