CUT-SP repudia racismo estrutural em estabelecimentos comerciais
Apesar da repercussão negativa de casos emblemáticos ocorridos em lojas de grandes redes, o preconceito ainda prevalece
Publicado: 21 Agosto, 2021 - 16h07 | Última modificação: 21 Agosto, 2021 - 16h09
Escrito por: CUT São Paulo

Aconteceu de novo! Mais uma pessoa foi vítima de racismo em um supermercado, uma prática que, infelizmente, permeia nossa sociedade. A professora Francisca Silvana da Silva, uma mulher negra, relatou nesta quinta-feira (19) que no dia 7 de agosto foi abordada por um segurança do supermercado Hortimais, na Zona Sul de São Paulo, que insinuou que ela estaria roubando uma bandeja de carne.
No entanto, as imagens do circuito interno do próprio estabelecimento – entregues na Delegacia para investigação da Polícia Civil – mostram que a professora não colocou qualquer produto em sua bolsa. Conforme ela relatou em entrevistas para a imprensa, a situação só não foi piro porque ela se negou a ser levada pelo segurança para uma sala reservada e exigiu que chamassem a polícia.
Chegando ao local, a PM revistou Francisca e constatou que não houve furto e ela, no exercício do seu direito, não abriu mão de registrar a ocorrência e já acionou uma advogada que denunciou o supermercado e deve buscar a reparação do dano na Justiça.
Como de praxe, a defesa do supermercado alegou que o serviço de fiscalização de loja é terceirizado, vai aguardar a apuração das autoridades e a empresa ainda alegou não compactuar com qualquer forma de discriminação racial e reforçaria esse compromisso com os funcionários.
No começo do mês outro caso que repercutir muito ocorreu numa loja do Assaí em Limeira, onde João Carlos, de 56 anos, teve que se despir para provar aos seguranças e funcionários do atacadista que não havia roubado nada. No ano passado, na véspera do Dia da Consciência Negra, seguranças de uma loja do hipermercado Carrefour espancaram, até a morte, João Alberto Silveira Freitas, homem negro, sob acusação de discutir e gritar com uma funcionária.
Esses são apenas alguns dos casos que vieram à tona por conta da denúncia das vítimas ou pela repercussão provocada seja pelas redes sociais ou pela imprensa. Mas até quando teremos de conviver com essas práticas do racismo estrutural?
Reportagem de 19 de agosto do portal G1 traz números estarrecedores que mostram o aumento do número de denúncias por discriminação racial recebidas pela ouvidoria da Secretaria Estadual da Justiça e Cidadania de São Paulo que cresceu mais de 85% entre janeiro a julho deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.
A matéria também traz dados do serviço SOS Racismo, da Assembleia Legislativa do Estado de SP, que somente neste ano recebeu mais de 700 denúncias, feitas por pessoas que sofreram algum tipo de preconceito racial no estado. Já os dados obtidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra uma redução de quase 22% nos registros de injúria racial no estado de SP entre 2019 e 2020.
Em que pese que empresas como o Carrefour tenha desencadeado uma campanha contra o racismo e anunciado o fim da contratação de seguranças terceirizados após o assassinato do homem negro em Porto Alegre, é urgente que as empresas revejam a orientação dada aos seus funcionários, inclusive terceirizados, pois independente do vínculo com os seguranças, o estabelecimento também é responsável por suas atitudes.
Por isso, a direção da CUT São Paulo repudia veementemente todo que qualquer ato de discriminação racial, cobra das autoridades competentes que os infratores sejam devidamente punidos na forma da lei, inclusive com a reparação dos danos às vítimas e reitera a necessidade de as empresas, os governos municipais, estadual e federal investirem na promoção de ações afirmativas e de combate ao preconceito e ao racismo tanto entre os seus funcionários quanto com a população.
Aproveitamos ainda nos solidarizarmos com todas as pessoas vítimas do racismo estrutural que permeia nossa sociedade e precisa ser combatido com ação, formação e educação. E, se sofrer preconceito, ou presenciar um ato de discriminação, disque 100 e denuncie.
Lembramos também que a CUT-SP também dispões de canal de denúncias contra racismo no local de trabalho. Para relatar situações discriminatórias, trabalhadores e trabalhadoras poderão encaminhar suas denúncias pelo WhastApp (11) 94059-0237 ou pelo e-mail bastaderacismo@cutsp.org.br. Ao encaminhar a denúncia, é fundamental reunir o maior número de dados, como local da ocorrência, data, dizer se há testemunha, entre outros aspectos que sejam fundamentais para o entendimento da prática de racismo.
Racistas, não passarão!
São Paulo, 20 de agosto de 2021.
Direção da CUT São Paulo