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CUT-SP lamenta morte de Dom Cláudio Hummes, que atuou em defesa dos trabalhadores

Dom Cláudio, como era conhecido, estava com 88 anos e tratava de um câncer

Publicado: 04 Julho, 2022 - 14h05 | Última modificação: 04 Julho, 2022 - 15h13

Escrito por: CUT São Paulo

Arte: Maria Dias/CUT-SP
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A direção da CUT-SP lamenta a morte do arcebispo emérito de São Paulo, o cardeal Cláudio Hummes, que morreu na manhã desta segunda-feira, 4 de junho, conforme comunicado da Arquidiocese de São Paulo. Dom Cláudio, como era conhecido, estava com 88 anos e tratava de um câncer.

Nascido em agosto de 1934, em Montenegro (RS), passou a dedicar sua vida à Igreja desde os 17 anos, quando entrou na Ordem dos Frades Menores (franciscanos). Sua trajetória é marcada pela luta em defesa das populações mais carentes, atuando em frentes contra a fome, em defesa dos povos indígenas, dos direitos dos trabalhadores e contra a ditadura militar.  

Entre 1975 e 1996, esteve como bispo da Diocese de Santo André, no ABC Paulista, quando acompanhou de perto o movimento operário no Brasil, que estava em plena ascensão. O cardeal sempre se posicionou publicamente contra as injustiças e as demissões.  

Em muitos momentos, Dom Cláudio ofereceu o espaço da Catedral de Santo André para a realização de assembleias dos trabalhadores e até realizou missa com grevistas, que eram consideradas ilegais pelo regime militar (1964-1985). Na luta contra o período de chumbo no Brasil, Dom Claudio se aproximou de Lula, numa amizade que permaneceu até os dias atuais.

Ricardo Stuckert/Instituto LulaRicardo Stuckert/Instituto Lula
Dom Cláudio com Lula, em 2014. Os dois eram amigos

Participou da histórica greve geral dos metalúrgicos do ABC nos anos 1970 e, em outras greves, mobilizou outros sacerdotes para estarem nas assembleias nas portas das empresas da região, além de ter utilizado de sua influência para ajudar os trabalhadores a dialogar com as autoridades.

Em entrevista ao Diário do Grande ABC, em 2015, o padre Carlito Dall'Agnese contou sobre um dos dias em que as portas da Igreja foram abertas para os operários, seguindo um conselho de Dom Cláudio, de quem foi próximo. “A polícia veio e o comandante deles me proibiu de dar o microfone para eles falarem. Eu disse a eles: ‘Subam nos bancos e falem bem alto para todos ouvirem’. Não deixei de cumprir a ordem”, disse.

Amazônia e povos originários

Nomeado pelo Papa Bento XVI, Dom Cláudio foi o Prefeito da Congregação para o Clero, no Vaticano, entre 2006 e 2010, sendo responsável por mais de 400 mil sacerdotes espalhados por todos os continentes.

Quando retornou ao Brasil, foi nomeado Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cargo que exerceu até 2019. Nesse período, ajudou na criação da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), sendo o primeiro presidente e, em 2015, durante a COP21 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), foi uma das vozes em apoio aos direitos dos povos indígenas. Estando como relator-geral do Sínodo para a Amazônia, em 2019, aproveitou novamente os holofotes internacionais para defender a demarcação de terras indígenas.

Entre 2020 e março deste ano, presidiu a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama).

Amigo do papa

Em 2013, o Papa Francisco revelou que a escolha do nome foi inspirada pelo amigo Dom Cláudio Hummes. “Ao meu lado, nas eleições (para a escolha do Papa), estava o arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, cardeal Claudio Hummes, um grande amigo. Quando a situação ficava um pouco perigosa, ele me consolava. Quando os votos chegaram aos dois terços, começaram a aplaudir, porque o papa tinha sido eleito. E ele me abraçou, me beijou e disse: ‘Não se esqueça dos pobres’. E aquela palavra entrou na minha cabeça: os pobres. Pensei em Francisco de Assis”, relatou o Papa aos jornalistas.

Dom Cláudio Hummes, presente!

Direção da CUT São Paulo
4 de julho de 2022